domingo, 5 de maio de 2013

Lições élficas bem sentidas

-Dobby, Muriel, pelo amor de Atena, parem de brigar!!! Parem ou vou mandar as duas pro inferno!... Oh wait, a gente já tá no inferno!!! - Miss D disse, sorridente, rindo da própria piada. As duas assistentes olharam-na, irritadas.
- Olha, assim não tenho condições de trabalhar! Essa garota e suas histórias pessoais atrapalham meu rendimento!! - Dobby gritou, os olhinhos muito verdes quase saltando da cara. Muriel olhou-a, dando de ombros. Aparentemente desistira de discutir com ser tão irritante. Miss D olhou as duas, girando sua cadeira vermelha e tirando os pés de cima do painel de observação. Ajeitou os cabelos muito negros, coçou o pescoço, apoiou os cotovelos nos joelhos. O próprio retrato da impaciência.
- Pois bem! O que você quer, Dobby? Além de ser o elfo mais eficiente, frio e chato do planeta Terra??
- Isso não é justo. Eu só quero fazer meu trabalho e ser reconhecida e não ter que perder meu tempo com as chorumelas dessa humana... Ou de qualquer outro. Humanos! São tão idiotas que precisam COMER para sobreviver... - cara de asco, olhos revirantes, ossos pontudos saltados por baixo dos farrapos infantis que a criaturinha vestia. Miss D olhou-a, as íris vermelhas e interrogativas percorrendo-a de alto a baixo. Ou melhor, de baixo a mais baixo. Sorriu.
- Sabe, Dobby, você devia voltar a Terra na pele de um humano para entender o que somos e como somos. E para aprender que você jamais, repito, jamaaaaaaais, deve se referir a espécie da sua chefe como idiota. Mas enquanto Hades não autoriza essa transação (sim, minha cara elfa anã, vou pedir a ele com a certeza de que esse céu continuará negro e você continuará feia), seu pequeno desprazer do dia será ouvir um relato de caso da minha vida. Pois bem... - ajeitou-se na cadeira, cruzando as pernas como uma criança. - Cafezinho, meu príncipe, venha cá e fique comigo enquanto isso, sim? Não quero o senhor mandando nenhuma tragédia pessoal longe das minhas vistas! - o gato virou-se, os olhinhos espertos e sorridentes fechando-se um pouquinho, e partiu aos saltos para o colo da amiga, que ajeitou-o e passou a acariciar sua cabeça. Ambos sorriram, encantados, presos naquele momento precioso de amizade e compreensão. Então Miss D suspirou, de repente lembrando-se de sua tarefa.
- Daí que durante toda a minha adolescência eu fui fechada feito uma ostra. Uma semi-autista, vivia o meu mundinho de céu perolado e brilhante, de colunas de livros e pilhas de conhecimento, de discovery channel a vídeos sobre as diversas civilizações do mundo. Essa era eu. Vivia muitas vidas, dos muitos personagens que tornaram-se meus melhores amigos. Amei meu gato, o Cafezinho lindo, e mais algumas pessoas, alguns amigos poucos, muito queridos, que tinham paciência e entendiam minha necessidade de ser só. Baladas? Namoros? Beijo na boca? Baaaah, coisa pra gente desocupada e sem ambição. Eu queria saber. Saber muito, saber tudo, muitos 10 no currículo e passar no vestibular direto do terceiro colegial. Era boazinha, quietinha, um poço de observação e olhos, muitos olhos, a absorver tudo o que se passava a meu redor, sem deixar que qualquer daquelas coisas me tocasse. Resumindo, anã élfica, eu parecia você. Um pouco melhor nutrida e menos amarga, mas parecia você. E sabe onde isso me levou? Exatamente, ao inferno! - gargalhada engraçada para quebrar o clima. A elfa anã olhou-a, sobrancelhas erguidas, como se aguardasse qualquer coisa acontecer. - Pois bem, antes do inferno, então... Me levou a me fechar mais e mais, a julgar as pessoas, a crer que só meu estilo de vida estava correto. Na verdade, eu invejava as pessoas, a facilidade com que se relacionavam, sorriam ou aceitavam o que a vida lhes atirava aos pés... Tornei-me amarga e cheia de mim. Cheia mesmo; nem eu conseguia me aguentar. E veio o rancor, a falta de docilidade, o cheiro de ódio amargado e curtido nos porões de uma alma em desuso. É isso que você quer? É onde chegam as pessoas que não se deixam tocar. Aquelas que nunca se emocionam, que não sentem o coração bater mais forte quando ouvem aquela música, que estão sempre enchendo de defeitos as pessoas e as situações. A vida passa, minha pequena criatura, e o que levamos daqui? Nossa agilidade, trabalhos em dia, competitividade e competência? Não. Pode acreditar. Quando tudo acabar, o filme que passa em nossa mente vai  mostrar sorrisos amigos, corações partilhados, amores. Aaah, amores! Porque é pra amar que vivemos! É o amor que nos marca como ferro ardente, nos cicatriza pra sempre, cicatrizes de felicidade e sentir, que o tempo não apaga. É isso que vale a pena. Porque caem os cifrões, os títulos e até os rancores. Mas o amor? O amor fica. O amor vai. O amor gruda na alma, agarra-se a ela até que seja parte das suas partes. O sentir nos move porque no fundo no fundo, o amor é a esperança e o desejo último de todos e cada um de nós. Amor universal, amor de mãe e pai, amor de cachorro, de filho, de casal. Amor! Sinta e pare de fazer. Segure a respiração e sinta. Sinta, porque vale a pena. Sinta por sentir, sinta por você, sinta para ser melhor para os outros. Só não deixe que a poeira e a ferrugem da armadura que você veste imobilizem você. Porque aí, minha cara, será o inferno. O inferno verdadeiro, o encarcerar da alma, uma vida de BBB, dias de mentirinha, meses de passagem, anos de enchimento. Silicone emocional, tão fake quanto bebês de plástico a espreitar por trás de olhos de vidro. Vida de jarros vazios, sementes defuntas, céus negros sem estrelas. Inferno. Inferno.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Colunas da vida...

- Sabe, Muriel, com o tempo aprendi que o melhor para mim era separar as coisas, sentimentos, pessoas e situações em duas grandes colunas: aquilo que serve e aquilo que não serve. Tudo. Desde comida, que pulava de coluna em coluna conforme minha barriga e meu colesterol, até homens, colegas, amantes e possíveis amigos: tudo era classificado assim. Achei que minha vida seria mais fácil se eu simplesmente colocasse aquela pessoa irritante na coluna da direita (é, eu sempre achei que o que não servia devia ir à direita... Mais perto de ir embora e fugir de mim, creio...) e esquecesse para sempre que um dia me preocupei com ela. É claro que minha tática nunca funcionou muito bem. Pensei então que deveria ser um problema de técnica. E criei uma terceira coluna, a do meio, daquelas coisas que estavam em processo de experimentação. Sim, aquelas que eu ainda não sabia se serviam ou não para mim, mas estava tentando descobrir. Os resultados melhoraram consideravelmente, mas ainda estavam longe de ser perfeitos. Porque sempre sempre sempre existirão aquelas pessoas, malditas pessoas, que você sabe que não servem para você, tem a certeza do sol nascente,  das ondas do mar e do girar da Terra que não servem para você, mas elas insistem em pular de coluna. E quando você vê, lá estão elas, na coluna do meio, disfarçadas de dúvidas, sorvete de pistache, esmalte verde e estampa de oncinha; disfarçadas como coisas que você ainda não sabe se servem; apenas disfarçadas, veja bem, porque na verdade, você sempre soube que elas não lhe cairiam bem. Entendi então, depois de mais tempo, que essas me eram as pessoas mais interessantes. Aquelas que me despertavam a curiosidade, o olhar atento, o sorriso fácil da surpresa, do diferente. Aquelas que me intrigavam, traziam minhas melhores expressões de espanto, me faziam morrer de rir da diferença assustadoramente grande entre eu e elas. E percebi que a diversidade me apaixonava. A facilidade com que as pessoas podem viver suas vidas sem as tantas regras que eu tinha estabelecido para viver a minha, a rigidez de comportamento, o pensamento sempre correto, as obrigações me primeiro lugar, a necessidade de ser sempre muito muito boa. Na verdade, eu tinha inveja delas. Inveja de sua simplicidade, leveza e sorriso barato. Inveja da facilidade com que aceitavam o que a vida lhes jogava aos pés, sem brigar, sem criar grande caso, sem a revolta rompante que eu achava necessária. Inveja do sentir sentido, não pensado. Inveja da falta de reflexões intensas a toda hora, do cérebro calmo e paciente, de tudo aquilo que eu não conseguia ter. Inveja de conseguir ser alguém que recusaria um emprego no inferno, pelo simples fato de não acreditar que deveria carregar todo esse peso nas costas. E por fim, entendi que de nada adiantava minha inveja. Eu era eu e eles eram eles e o mundo haveria de aceitar a todos, porque não tinha escolha. Eu não mudaria, não muito, e no fundo gostava muito de ser a pessoa que ainda sou. Eles não mudariam, não muito,  apenas cresceriam a aprenderiam a dosar aquis e alis. Como eu também. E no fim, minha querida Muriel, acabamos todos aqui. No fim, tudo é pó, terra, almas carregadas, chamas flamejantes e brisas refrescantes. No fim, as colunas caem todas e ficam apenas os sorrisos.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pausa para um Cafezinho...


As pessoas moviam-se, lusco fusco, almas brilhantes a circular sob a chuva. Os pássaros, pequenos amontoados de penas molhadas, encolhiam-se em ninhos de todos os tipos nas copas das árvores, pequenos deuses a observar a movimentação dos mortais abaixo. Gatos, olhos brilhantes e questionadores, enfiados em bueiros e embaixo de bancos, evitavam a água incômoda que caía. Um labrador amarelo latia ao longe, feliz, sorridente, tentando apanhar as gotas de chuva enquanto seu dono erguia o guarda-chuva e gritava seu nome. A chuva apertou, muitas gotas risos, gotas lágrimas, gotas do que se quer que seja. Para ela, eram gotas lágrimas. Gotas tristeza. Gotas saudades de um tempo que já não voltava. E ninguém sabia ou se importava. Ninguém parava e olhava pra cima, ou pra baixo?, imaginando que alguém os observava naquele momento, com lágrimas de chuva ácida, lágrimas bronze em um céu de prata. Lágrimas vapor, água no inferno.
Afastou-se dos monitores de observação da Terra, voltando os olhos para Dobby, que trabalhava ao lado. Pensou naquele serzinho alienado e chato, brigas constantes com Muriel; tolos seres do inferno. Tola ela, que aceitara tal cargo. Tolo o mundo, que precisava de pessoas em cargos como o seu.
-Miss D, eu estive pensando em todo o MEU trabalho nesses últimos tempos e, quer saber?? Se a Muriel não deixar de ser incompetente, vou passar por cima dela. Não quero nem saber! Já tenho meus planos de promoção, não vou deixar uma sem estudos como aquela garota me atrapalhar!!
- Dobby, vai com calma. Eu não estou de bom humor hoje... Pra colocar fogo em um ou dois é um palito e meio. Então não força, gata... Gata! Até parece! Quem forçou agora fui eu! - Miss D riu-se, os olhos vermelhos faiscando risadinhas. Dobby olhou-a com raiva, os lábios apertados e a carinha feia enrugada. Voltou-se a suas anotações, balbuciando coisas inaudíveis.
Miss D deu de ombros e se preparava para acionar botões de tragédias pessoais quando um gavião gigantesco entrou voando pela janela, uma caixa plástica de transportar animais segura em seus grandes pés.
- Pelos deuses, Cadu! Você me assustou!!
- Desculpa, senhora Divina! Certamente não foi a intenção! - respondeu o animal, voz grossa de radialista. Abaixou a cabeça em uma espécie de reverência e retirou uma prancheta de algum lugar debaixo de sua asa esquerda, estendendo-a com o bico para que Miss D assinasse.
- O que temos aí, Cadu?? Quem mandou??
- Presentinho especial do senhor Hades. Mandou esse bilhetinho também! Adiantou-me que não conseguia vê-la tão triste... O pobre homem tem um coração enorme, você vê. Pena que seja tão pão-duro... Enfim... Agora, se me dá licença, tenho um dia de entregas pela frente!
- Senhor Hades, é? Huum, curioso! - Miss D olhava para o papel muito negro em suas mãos, sem saber o que esperar. Cadu bateu asas de repente, derrubando a pequena Dobby de sua cadeira, que soltou um guincho estridente. Miss D continuava hipnotizada pelo papel. Terminou de ler e deixou que caísse no chão, abaixando-se junto a gaiola de transporte animal.
- Não acredito!! Não pode ser! Cafezinho, é você mesmo?? Por deuses, é você! Meu anjinho, meu príncipe, que saudades de você! - disse, em meio a muitas lágrimas, abrindo a caixa e retirando de dentro um gato todo preto, de olhinhos verdes e ronronar forte. Ele parecia incrivelmente feliz em vê-la, fechando os olhos e sorrindo aos carinhos. Os dois ficaram assim, abraçados em um reencontro de almas, reencontro de amores, fusão feliz dos há muito apartados. Miss D chorava lágrimas doce, lágrima chuva, lágrimas açúcar, choro ouro em em rio de prata. Sorria e abraçava aquele que havia por tanto tempo guardado a melhor parte de sua alma. Sorria e abraçava aquele seu amigo, velho amigo, que um dia se fora e deixara um vazio em sua vida. Sorria e abraçava aquele que faria com ela a melhor dupla de Tragédicos de toda a Infernópolis. Sorria e abraçava aquele que viera para fazê-la mais feliz em outra época, muito distante, e que agora retornava, gato fiel, amigo eterno, anjo da guarda.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

E eis que surge Dobby...

Empurrou sua mesa com os pés descalços, fazendo sua cadeira vermelha girar. Levantou-se, encaixando os pés nos sapatos também vermelhos e caminhou até a janela de sua sala. Olhou para o céu, pseudo-céu, preto preto, preto necrose, preto pupilas dilatadas e irresponsivas, preto morte, preto inferno. Sentia falta das estrelas, da chuva, das nuvens, da lua. Falta do azul, do nascer do sol, dos vales verdes de sua casa de campo. Arrependia-se, por vezes, da escolha irônica de aceitar um emprego na terra das trevas. Sentia falta de ser só ela mesma, de ser apenas uma menina, de seus dias antes de se tornar Miss D. Mas tinha uma missão ali, ou pelo menos era o que acreditava. Uma missão longa demais, talvez, mas igualmente necessária.
Um corvo pousou sobre o parapeito da janela, olhando-a com seus olhinhos de conta. Ela observou-o e estendeu a mão para ele, sorrindo.
- Olá Fernando! O que me conta?? - disse, o pássaro saltando para suas mãos. Estendeu sua cabecinha e puxou de uma das pernas um bilhetinho, estendendo-o a ela. Ela olhou-o, curiosa. - Ah, claro! Hades e sua mania de ser retrô! Não podia mandar uma mensagem de celular? Email? Deuses, em que século esse homem parou?? Corvo correio??
O pássaro observou-a, virando as costas, ofendido. Ela acariciou suas penas, dando-lhe um pedaço de alguma coisa amarelada, com cheiro de mel. Ele pareceu perdoa-la pela grosseria, fazendo uma espécie de reverência e voando para longe.
- Muito bem, muito bem, vamos ver o que nosso chefe manda-me dessa vez. "Achei que estava na hora de você ter uma assistente! Parabéns pelo bom trabalho. H.". Assistente?? Mas o q...
- Olá, madame! - disse uma criaturinha, cabeça pelada, orelhas grandes e pontudas, nariz enorme e muito fino, roupas esfarrapadas e 1,2m de altura, na melhor das hipóteses.
Miss D deu um pulo, deixando o bilhete cair. Olhou a recém-chegada com genuíno interesse, erguendo as sobrancelhas em dúvida. Sorriu. - Gente, mas você é igualzinha ao Dobby, do Harry Potter. Hades me mandou um elfo doméstico??? Puta que pariu, ainda bem que ele está contente com o meu trabalho! Se estivesse achando ruim, me mandaria o quê de auxiliar? O Salsicha e o Scooby??? - e começou a rir da própria piada. A elfa fechou a cara, visivelmente ofendida.
- Ok, ok, desculpa, Dobby! Posso te chamar de Dobby? Esse lugar as vezes deixa a gente um pouco insensível, sabe? Quer dizer, não que eu fosse muito melhor viva, anyway... - e gargalhou novamente da própria piada. A elfinha observou-a, indecisa. Parecia desagradada e irritada. - Olha, madame, eu só estou aqui porque o senhor Hades MANDOU. Pode me chamar do jeito que quiser, desde que eu consiga fazer meu trabalho e ganhar a aprovação de todos, ou melhor, o prêmio de elfo do mês, ou melhor, que eu aprenda alguma coisa para minha vida!!! - disse, fulminando Miss D com os olhinhos muito verdes. Miss D olhou-a, as pupilas vermelhas cheias de alguma coisa que quase parecia pena. Sorriu, os dentes muito brancos e sinceros aliviando a hostilidade que se instalara na pequena sala. Sorriu, porque o sofrimento mundano daquele ser mágico a comovia quase o mesmo tanto quanto sua avidez imbecil por produtividade a irritava. Sorriu porque sabia que tempos difíceis a esperavam com aquela "assistente", mas, no fundo, Miss D estava desesperada por companhia. Sorriu porque quando se mora em Infernópolis, poucas são as oportunidades de sorrir.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

TPM dos infernos...

Ela levantou-se da cadeira, andando de um lado para o outro. A capa preta a seguia, formando um rastro, aura negra que a fazia parecer flutuar. Os olhos vermelhos, rubros, rubros paixão, rubros vulcão, rubros lava e destruição, dançavam nas órbitas, ansiosos, queixosos, prontos para saltar e correr. Estalava os saltos no chão, ritmadamente, como se seu raciocínio dependesse disse. Sorriu, os dentes muitos brancos contrastando com os cabelos negros e os olhos vermelhos e fumegantes.
- Muriel, o que temos para hoje? - disse a uma recém-surgida assistente, de terninho de linho cinza escuro, muito alinhado, cabelos presos e sapatos de salto.
- Miss D, para hoje temos aquele grupo que você separou ontem. Marcou como B-O-R-I-N-G! - respondeu a jovem, checando informações em um tablet.
D olhou para os lados, passando a língua sobre os dentes brancos. Os olhos faiscaram, faíscas vida de um lugar de mortos.
- Claro, os boring! Nossa, um grupo chatérrimo, borrérrimo, que usa palavras em latim e discute as coisas mais esquisitas. E não sabem relaxar! NÃO SABEM RELAXAR, MURIEL!! Total desperdício de carne humana. Quer dizer, não que carne humana seja algo assim tão bom, não é? Anyway...
A assistente olhou-a e segurou-se por um tempo, mordendo as unhas.
- Miss D, será que você não está exagerando? Quer dizer, eles são apenas.... chatos!
- Minha querida, apenas chatos? Gente que só fala em produtividade, produtividade, coisas sérias, muito sérias, não relaxa e não se mostra pro mundo? Nem ao menos permite que os outros entendam sua real essência, porque estão sempre escondidos por trás de assuntos como livros, filosofia, coisas sérias, coisas sérias, coisas importantes... Se não sabem relaxar, falar besteira, sorrir, gargalhar com os amigos e curtir momentos de descontração, o que os difere de robôs??? - olhou a assistente, vermelho fogo, intenso, queimado, cheio de D.
- Eu... ãhn... Mas eles não fizeram nada de errado, eu acho... - a assistente voltara a morder as unhas.
- Robôs podem ser consertados! Eles não! Fogo neles, Muriel! Fogo agora!!
- Fogo?? Tipo lava?? Mas Miss D... - Muriel ainda tentou.
- TPM, my dear Mumu! TPM! - e sorriu, suspirando com o poder libertador que só o inferno conseguira lhe dar. Sorriu, suspirando com a possibilidade muito única de alimentar cada fiozinho de sua ira hormonal. Sorriu, suspirando porque podia, porque não engolia, mas vomitava lava, lava cinzas, cinzas fogo de mulher vulcão.